UP, o décimo longa de animação da Pixar, talvez não seja a excelência com a qual estamos acostumados, mas é divertido pra caramba. A historinha do velhinho Carl que deixou o tempo passar e não realizou seus sonhos de aventura ao lado de seu amor Ellie, companheira de longa data, é familiar e pitoresca. Em busca do suposto tempo perdido, Carl decide realizar a viagem tão prorrogada. Nisso entra de gaiato o irreverente escoteiro Russell e o contraponto está feito: juventude e velhice descobrindo um novo mundo.
Digo excelência no sentido de que quem esperava uma outra obra-prima como Wall-E, talvez não tenha gostado. Meu colega, entenda o seguinte, Wall-E é daqueles que surgem de tempos em tempos. Eu gostei e achei todos os personagens adoráveis e encantadores, como o estabanado cachorro Pup, a engraçada ave “Kevin” e até a matilha de cães do mal. Menos o vilão, que é um patife daqueles. Calhorda.
Das animações da Pixar esta me parece aquela que consegue ter um maior equilíbrio entre o apelo aos mais velhos e também aos mais jovens. Explico: o começo é maravilhoso e não será muito bem entendido pelos infantes mas logo que acaba o belíssimo prólogo, o desenho toma um ritmo e tom brincalhão que agradará principalmente a criançada. Porém, como felizmente eu ainda mantenho o meu espírito infantil vivo, me diverti à beça nessas cenas. Outros não terão a mesma sorte e nisso começam a reclamar de uma “suposta” irregularidade que quebra a história.
Uma coisa que eu sempre argumentei é que não se pode comparar filme com animação, por melhor que ela seja. Não concordo que uma animação possa um dia concorrer e até ganhar um Oscar de melhor filme, pois acredito que a produção e o trabalho com atores reais é muito mais complexo. Dito isto, não entendo porque as críticas a UP nas partes em que o desenho adquire tons surreais, como a partir das cenas em que o velhinho Carl puxa a casa rumo ao seu tão sonhado destino.
Se um desenho não pode ser nonsense, eu me demito. A coisa que eu mais adoro em desenho é a possibilidade dessa fuga louca e descabida, que quebra todos os parâmetros. Em UP as cenas “absurdas” são feitas com muita graça e não há a perda da magia, que é o que importa. Se não gostou, faça o seguinte, interprete a casa como uma metáfora e engula seco. Mas não encha o saco.
UP funciona muito bem em 3-D e não chega a incomodar a visualização com aqueles feitos especiais irritantes só pra mostrar que é 3-D. Como vocês vêem, eu não sou tão fã de 3-D, pois acho um recurso ainda limitado (antes de UP começar, exibiram vários trailers em 3-D e Avatar foi um deles; sinceramente espero que o novo de James Cameron não sofra com isso e me decepcione). Outra coisa que não gosto são versões dubladas, mas devo admitir que Chico Anysio dublando Carl é impagável. Um show à parte.
Enfim, foram momentos bem agradáveis no cinemão e mais uma vez a a Pixar mostra que é o bicho e o resto que corra atrás. UP é um desenho que nos diverte, comove e até faz refletir. Serei chato se exigir mais que isso! No final temos a certeza que nunca é cedo demais para se aventurar pelo mundo. Ou tarde demais. Basta coragem.